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ESCUTA SÓ: "Coming Around Again": Uma Canção, Duas Vozes e as Ondas da Memória

  • Foto do escritor: Edu Fontes
    Edu Fontes
  • 17 de ago.
  • 2 min de leitura
ESCUTA SÓ
ESCUTA SÓ

A primeira vez que ouvi "Coming Around Again", o rádio da cozinha sussurrava a melodia como quem conta um segredo. Era final dos anos 80, e eu, um adolescente recém-chegado a Angra dos Reis, ainda carregava o pó das ruas sem calçamento de Barra do Piraí nos sapatos. Mas ali, diante do mar, tudo era novo — inclusive a música.


Carly Simon cantava sobre coisas que eu ainda não entendia direito: "Baby sneezes, mommy pleases, daddy breezes in". Havia um tom de ironia doce naquela letra, uma aceitação de que a vida era feita de recomeços, mesmo quando tudo parecia desmoronar. Eu não sabia, então, que aquela canção seria a trilha sonora de minhas próprias descobertas — as trilhas pelas encostas, as primeiras investidas no rádio, os programas noturno de Fábio Iarede, que pareciam escolher cada acorde só para mim.


Ouça a versão original enquanto lê: Coming Around Again – Carly Simon


Antes de Angra, o rádio AM era minha janela para o mundo. Os comunicadores não apenas tocavam hits; eles explicavam o contexto por trás deles. Debates, entrevistas, análises sobre fatos, pessoas e coisas — tudo me ensinava a escutar além do óbvio. Quando "Coming Around Again" entrou em rotação, eu já estava treinado para decifrar suas camadas.


Era uma música sobre ciclos, sobre amor que se refaz mesmo quando quebra. E eu, naquela época, começava a entender que a vida também era assim: cheia de repetições e pequenas revoluções. A cada final de tarde, quando a emissora local - (Rádio Costazul FM) a colocava no ar, eu aumentava o volume — não queria perder nenhum detalhe do piano, nenhum suspiro da voz de Carly.


Quase quatro décadas depois, Alanis Morissette resgatou essa melodia e a tingiu com sua voz áspera e cheia de verdades. Se a versão original era um acalanto nostálgico, a dela é um lembrete: "Sim, tudo volta. Mas você não é mais o mesmo."



E assim, entre Carly e Alanis, entre o adolescente que eu fui e o adulto que sou, a música continua a mesma — mas eu, definitivamente, não. E talvez seja isso que ela sempre quis dizer: "I know nothing stays the same, but if you're willing to play the game, it's coming around again."


*Crônica para ser lida em loop, como a própria vida.

 
 
 

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