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Caminhos da Serra: A fé do outro.

  • Foto do escritor: Felipe Barbosa
    Felipe Barbosa
  • 8 de ago.
  • 2 min de leitura

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Crendice boa é a do outro?

Pular sete ondinhas no Réveillon.

Não passar debaixo de escada.

Bater na madeira.

Amarrar fitinha no pulso e fazer três pedidos.

Não quebrar espelho.

Jogar sal atrás do ombro.

Colocar romã na carteira.


Todo mundo conhece. Todo mundo faz.

E ninguém chama de “bruxaria”. Ninguém diz que é “coisa do demônio”.

É só simpatia. É só tradição.


Mas pare e pense: de onde vêm essas práticas?


Muitas dessas chamadas “crendices populares” têm sim raízes africanas. Vieram com o povo negro escravizado, misturadas com o catolicismo popular, escondidas pra não serem perseguidas, adaptadas pra sobreviver.

O que hoje você chama de simpatia, ontem foi chamado de feitiçaria — e perseguido com violência.


Mas quando se fala em trabalho espiritual, em ebó, em axé, quando se acende uma vela para Exu ou se entrega um padê no cruzamento, aí o olhar muda.

Aí vira “macumba”.

Vira motivo de piada, de medo, de preconceito.


Por que a simpatia da vovó é linda e o trabalho da ialorixá é demonizado?

Por que o banho de sal grosso é aceito, mas o de arruda com erva-doce é coisa “estranha”?

Por que pular onda é sorte, mas fazer uma oferenda no mar é sacrilégio?


A resposta é dura: racismo religioso.


A sociedade brasileira romantiza tudo que vem embranquecido. Mas criminaliza o sagrado quando ele é preto, ancestral, de terreiro.

Quer a energia, mas rejeita a origem. Quer a proteção, mas despreza quem protege.


Chegou a hora de refletir:

Ou respeitamos todas as crenças, ou estamos só escolhendo quem pode acreditar.

Umbanda, Candomblé, Jurema, Encantaria — são religiões, são saberes, são caminhos de fé.

Não é folclore, não é superstição.

É resistência. É tradição. É sagrado.

 
 
 

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