Caminhos da Serra: Mãe Marinha: Fé, resistência e amor ao próximo

Falar em resistência contra o racismo e o preconceito religioso é também não deixar de homenagear Mãe Mariinha — uma mulher com visão à frente do seu tempo, que construiu um legado espiritual e social com coragem, generosidade e fé inabalável.

Maria Cândido Barbosa nasceu em 30 de janeiro de 1918, no Sertão do Carijó, região do Bracuí, em Angra dos Reis. Era filha de mãe indígena e pai português. Desde jovem, esteve ligada à espiritualidade: foi membro da Pia União das Filhas de Maria até sua conversão à Umbanda, nos anos 1950, orientada pelo Babalorixá Carlito Edileus Vieira.

Em plena ditadura, Mãe Mariinha ergueu, orientada por seu mentor espiritual Caboclo Sobe-Serra, um espaço de acolhimento e cuidado, fundado junto a uma mina d’água consagrada a Oxum, em meio à mata atlântica. Ali, consolidou a Associação Espírita Afro-Brasileira Taba de Pindaré e Terreiro do Caboclo Sobe-Serra, que logo se tornaria referência espiritual e comunitária na cidade.

Mãe Mariinha viveu para cuidar do outro. Acolheu pessoas em situação de rua, ofereceu moradia, comida e dignidade. Com o auxílio de seus filhos de santo — muitos deles profissionais em diversas áreas — ajudava a encaminhar essas pessoas à profissionalização e à autonomia.

Inspirada por sua entidade espiritual, Vó Catarina, fundou nos anos 1960, no bairro da Japuíba, uma escola primária gratuita, mantida com recursos próprios e com professores que eram seus próprios filhos biológicos. Mãe Mariinha entendia que educar era um ato sagrado, de resistência e de amor ao próximo.

Sua generosidade foi além do terreiro. Doou terrenos que possibilitaram a construção do Colégio Municipal Mauro Sérgio da Cunha e da Igreja de Santa Teresinha, sempre pensando na coletividade. Sua vida foi a prova de que religião também se pratica com ações concretas.

Hoje, ao manter viva sua memória, reafirmamos o compromisso da Umbanda com a justiça, a inclusão e o amor. Mãe Mariinha é exemplo de uma liderança religiosa que lutou não apenas pela fé, mas pela dignidade de um povo.