Caminhos da Serra: Nem tudo que reluz é ouro.
- Felipe Barbosa

- 1 de ago.
- 2 min de leitura

Nem tudo que reluz é ouro: a banalização da religião nas redes sociais
Nos últimos anos, temos nos deparado com uma enxurrada de vídeos sobre religiões de matriz africana circulando nas redes sociais. Em um primeiro momento, essa visibilidade pareceu ser um avanço. Afinal, as plataformas digitais poderiam ser ferramentas poderosas para dar voz às tradições, combater o preconceito religioso, desconstruir estigmas e promover o conhecimento de práticas ancestrais que, por séculos, foram marginalizadas.
No entanto, o que poderia ser um espaço de conscientização e valorização se transformou, em muitos casos, em um espetáculo de banalização.
Lideranças religiosas — pais e mães de santo — têm exposto rituais, fundamentos e elementos sagrados de forma descontextualizada, sem o devido cuidado com o que deve ou não ser compartilhado publicamente. Há uma linha tênue entre divulgar e profanar, entre ensinar e expor o que deveria ser resguardado.
É fundamental desenvolver senso crítico diante dessa nova dinâmica. Precisamos parar e refletir: até onde devemos mostrar? Até que ponto a exposição realmente contribui para o crescimento da religião? A busca por curtidas, seguidores e engajamento tem se sobreposto, muitas vezes, ao respeito pelo sagrado.
Existem diversos perfis e intenções por trás dessa exposição. Há quem busque apenas visibilidade pessoal. Outros, interessados em lucros fáceis, vendem previsões e supostos "tratamentos espirituais" como se fossem mercadorias em uma vitrine. E há também aqueles que, mesmo bem-intencionados, acabam contribuindo para a confusão ao apresentar práticas fora de contexto, dando margem a interpretações equivocadas.
O resultado disso é uma poluição visual e simbólica tão grande que, para quem não conhece a Umbanda de fato, torna-se difícil discernir o que realmente faz ou não parte da religião. Misturam-se elementos de outras tradições, práticas inventadas, teatralizações e promessas milagrosas, tudo embalado em vídeos curtos e impactantes que visam mais o espetáculo do que a fé.
Precisamos lembrar que a Umbanda é uma religião viva, ancestral, construída na resistência e na sabedoria dos guias espirituais. Ela não precisa ser transformada em entretenimento para ter valor. O axé não se mede por likes.
É claro que existem exemplos positivos: conteúdos educativos, relatos de vivência, projetos de valorização da cultura afro-brasileira, falas conscientes de lideranças sérias que entendem os limites entre o sagrado e o público. Mas eles ainda são minoria num mar de superficialidade.
Por isso, cabe a cada um de nós — filhos e filhas de santo, médiuns, simpatizantes e praticantes — cultivar a responsabilidade. O sagrado não se exibe, se vive. E o respeito pela fé começa por aquilo que escolhemos mostrar ao mundo.




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