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Caminhos da Serra: O Poder da Palavra

  • Foto do escritor: Felipe Barbosa
    Felipe Barbosa
  • 16 de mai.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 14 de jun.


Vadiar, Macumba e o Poder da Palavra na Luta Contra o Racismo

Durante muito tempo em nosso país, palavras foram transformadas em armas — não por quem as criou, mas por quem não as entendia. Um exemplo é o termo "vadiar", que nos tempos da escravidão e pós-abolição passou a ser usado pelas autoridades para criminalizar a cultura negra.


No final do século XIX e início do XX, era crime "vadiar" — especialmente para os negros que se reuniam para jogar capoeira. O simples ato de se encontrar, rir, cantar, mover o corpo com liberdade era considerado ameaça à ordem. A capoeira, expressão de resistência e liberdade, era tratada como desvio de conduta. Quem era pego jogando capoeira era preso, agredido e fichado como "vadiante".


Mas o que poucos entendiam — e muitos ainda não compreendem — é que para o povo negro "vadiar" não era ocioso, era celebrar a vida. Era ocupar o tempo livre com arte, música, dança e espiritualidade. E hoje, como um gesto de resgate e orgulho ancestral, grandes mestres e escolas de capoeira voltaram a usar o termo "vadiar" com dignidade e consciência. Porque não é a palavra que ofende, é o olhar de quem não compreende sua origem.


Outro exemplo disso é a palavra "macumba". Muito usada de forma pejorativa, associada ao mal ou ao desconhecido, ela também carrega raízes profundas da cultura afro-brasileira. Macumba pode significar duas coisas, ambas belas em sua essência:


Macumba era uma árvore, e seu tronco era usado para fazer tambores. Logo, “fazer macumba” significava tocar tambor, reunir-se para celebrar a vida com música e dança.


Em algumas culturas de origem banto, os anciãos se reuniam sob uma grande árvore para discutir os caminhos da comunidade. Essa imagem poderosa transformou “macumba” também em sinônimo de reunião de sabedoria ancestral.


Mas por que então essas palavras foram criminalizadas? A resposta está no próprio conceito de preconceito: um pré-conceito, uma ideia formada antes de qualquer compreensão. Quando falamos de racismo, muitos desses preconceitos vêm de uma herança histórica que criminalizou tudo o que era negro, tudo o que era diferente da cultura dominante.


Por isso, resgatar palavras como "vadiar" e "macumba" é um ato político, espiritual e cultural. É reafirmar que nossa história não é vergonha — é força. É fazer da informação uma arma contra a ignorância e o racismo. E acima de tudo, é honrar os que vieram antes, que vadiaram, tocaram, dançaram, oraram e resistiram para que hoje possamos estar aqui — vivos e conscientes.

 
 
 

3 Comments

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Guest
May 19
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Gabriella Sant Ana
Gabriella Sant Ana
May 19
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Caroline
May 19
Rated 5 out of 5 stars.

Ótima leitura e de fácil interpretação. Assim ficamos informados sobre alguns termos que ouvimos e acabamos julgando, sem ter conhecimento.

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